Contramão

Hoje eu estou aqui definitivamente para ver se encontro algum tipo de sono.
Na realidade sem sono eu não estou, até tenho um pouco, mas não é o suficiente pra me derrubar ali naquela cama no cômodo de trás. Se eu for lá vai ser aquela velha história de sempre: vira pra um lado, vira pro outro e nada de apagar de vez. Liga o som, coloca alguma coisa pra ouvir, pensa na vida e aí começa a borbulhar de ideias e coisas do tipo pra fazer… aí é que eu não durmo mesmo. Sempre assim. Maldita cabeça pensante que não encontro mais onde fica o botão off.
Ei melatonina, cadê você?

As vezes é bem complicado ter essa vida noturna. Tem lá suas vantagens, como por exemplo, ninguém pra te chamar ao telefone, nenhuma buzina para ouvir na rua, nenhuma porta da vizinhança batendo ou algum som alto com músicas irritantes, vizinhos berrando no truco ou aspiradores de pó que parecem que não terminam seu serviço nunca. Nesse momento eu só escuto o barulho da minha geladeira, do meu relógio da sala (ops, da geladeira não mais, acabou de desligar) e dos meus dedos no teclado. Ah claro, e de uma tosse chata que ta comigo e sei que vai ficar por um tempo ainda, como sempre. Mas enfim, voltando ao ponto que eu queria chegar, viver ao contrário da maioria chega ser bem difícil as vezes… mesmo agora, bateu uma fome gigante e não tinha nada em casa pra comer.. tive que sair e ir até a padaria. Chegando lá, a padaria estava em reforma, meia dúzia de funcionários e seilá quantos clientes… aquela coisa de louco, fiquei mais tempo na fila pra pegar o pão e pra pagar do que pra sair de casa e ir até lá. Voltando pra casa, chego no portão e cadê o porteiro? Tava dormindo, claro… pra você ter uma noção de quanto demorei na fila haha. Assobia aqui, assobia ali, bate no portão… e nada. E eu com duas sacolas de coisa na mão, as 2h40 da manhã na rua… sem uma alma viva. Ok, não tava com fome mesmo e nem queria comer né. Desci mais um pouco a rua pra chegar na garagem mas não adiantou nada porque não tinha porteiro hoje lá. Sobe de volta… bate mais um pouco, assobia.. nesse momento eu já tinha acordado todos os porteiros da rua, menos o meu. Tenho certeza que eu estava sendo observado por vários, e logicamente, todos rindo. Enfim… peguei uma pedra e pensei em tacar no vidro da guarita, era a única forma. Joguei devagar pra não foder de vez aquilo tudo, mas foi fraca demais. Parei pra tentar pensar em uma outra forma mas não achei, e também, já não tava lá com muita paciência não… peguei outra e ataquei de novo, essa caiu do lado mas fez barulho… aí na hora o cara levantou, colocou os óculos, ficou cego por alguns segundos – enquanto eu já gesticulava na frente do portão – deve ter contado até 10 pra se situar e abriu o portão. Ae, finalmente!
Passei por ele e só comentei “Você quer é me deixar pra fora né?” … e ele com aquele ar de boca babada só diz um “hehe boa noite”. Boa noite… excelente né? vou deixar é ele pra fora e com fome da próxima vez… boa noite.

Enfim, mas nem sempre é assim… não posso reclamar. E de qualquer forma, eu prefiro viver a noite do que de manhã. Prefiro acordar depois do almoço e prefiro jantar quando ninguém mais está acordado.

Já dizia aquele velho ditado: “Cada louco com a sua loucura”.

Me deixem eu com as minhas haha… se bem que loucura não é, são apenas ossos do ofício.